CAPÍTULO 4 - SEMANAS DEPOIS...

 

Aquele quase suicídio acabou me deixando com água dentro dos ouvidos por um bom tempo... Fiquei muito envergonhada, nem fugir eu conseguia.


Fiquei naquela cama de folhas por quase duas semanas; Não tinha ânimo para ficar de pé, não tinha vontade de fazer mais nada... Quando sentia fome, mordiscava uns pedaços de ervas e raízes que eles comiam, mas aquilo tinha um gosto horrível então eu não comia muito.

O homem que me vigiava saia sempre toda manhã e voltava à tardinha, me deixando sozinha o dia inteiro. Se eu quisesse poderia tentar fugir de novo, mas nem pra isso eu tinha vontade.

Naquela tarde, ele voltou trazendo peixes e algumas peles de animais selagens. Eu sempre o observava, com um olhar de peixe morto e estirada nas folhas, mal me mexia.


_Você precisa comer. – ele disse, colocando os peixes sobre uma pedra – Ficar doente não vai te levar embora e morrer também não.

_A é? E como sabe que morrer não me levaria embora? – perguntei com a voz baixa.

_Seu corpo seria enterrado aqui não seria? E você apodreceria aqui e seus restos mortais alimentariam este solo... Seu espírito vagaria nesta ilha para sempre.


_Que horror! – exclamei levantando-me... Era mesmo algo muito horrível. Eu sempre sonhei em como seria o meu enterro, eu lá, toda vestida de branco como num casamento, muitas flores ao meu redor, uma redoma de vidro para todos me verem e chorarem por mim. Eu estaria linda, e morreria de velhice, seria a velhinha mais linda do mundo. Não queria ser enterrada na areia e servir de alimento para o solo! Cruz credo!

_Esta bem, você me convenceu, eu como um pouco. Mas não aguento mais essas raízes! Elas fedem e tem gosto de nada com barro e repolho!

_Já comeu barro? – ele perguntou. Deu a impressão de sorrir e zombar da minha cara...

_Ha, há! – ri ironicamente. – Tem alguma coisa que não seja aquelas coisas nojentas pra comer?


_Tem. Tem peixe!

_Blé!!! Eu odeio peixe! Não asquerosos, fedem e tem espinhos que podem matar!

_Qual é a diferença? Você comia as raízes que fediam também, e esta ai, jogada pra morrer, e ainda fede... Não tem muito o que reclamar...

_Você se acha o espertinho da natureza não é? O cara! O superselvagem! Me erra ta legal?!

_Vou preparar os peixes, depois você come se quiser... Ao menos terei feito a minha parte. – e virou-se para limpar os peixes.


Será que eu estava sendo rude demais com aquele nativo? O coitado estava cuidando de mim e eu fazendo pouco caso... Mas ele era um chato! Sei lá... Acho que.... Ah! Droga de consciência! Ficava me atormentando cada vez que eu fazia algo que não era ou não parecia certo...

_Esta bem! – pensei... Ainda meio que receosa, olhe pra ele e pedi desculpas...

_Esta bem! – pensei... Ainda meio que receosa, olhe pra ele e pedi desculpas...

_Você? Me pedindo desculpas? Você esta se sentindo bem?

_Olha só você! Eu deixo meu orgulho de lado, coisa que não é fácil, pra me desculpar contigo e veja só! Acha que estou delirando! Isso que dá tentar ser educada com um selvagem! – e saí batendo o pé lá para a varandinha que tinha nos fundos da casa.


_É... Acho que eu fui um pouco desagradável com ela..

 

Lá nos fundos, eu fiquei observando o mar... A única coisa que tinha pra se ver! Ai ai... Que saudade de casa... Saudade das minhas joias, dos meus vestidos, sapatos, das minhas empregadas e do meu quarto enorme com minha cama superfofa cheia de ursinhos de pelúcia... Que saudade de Wellington... Como será que ele esta agora? Será que sente a minha falta? Será que ele esta a minha procura? Tantas perguntas, e nenhuma resposta... Que tristeza o destino havia me reservado... Estar ali, presa naquele mundo selvagem era a pior coisa que poderia existir.


Estava distraída com meus pensamentos que nem vi o selvagem chegar atrás de mim. Ele ficou ali parado, me observando, enquanto eu sentia a brisa me tocar trazendo junto tantas lembranças da minha vida.

_Ei – disse ele, despertando-me dos meus sonhos – Me desculpe, não fui educado. Você veio me pedir desculpas e eu zombei de você. Por favor, aceite minhas desculpas sinceras.

Virei para ele, e ali fora eu pude ver com clareza o rosto daquele que me cuidava.


Como alguém poderia ser tão bonito vivendo na selva? Algo dentro de mim me fazia querer toca-lo, sentir sua pele e afastar os fios de cabelo de seus olhos, mas tinha que me conter! Eu não poderia criar nenhum laço afetivo ali, ou quando fosse embora, a despedida se tornaria algo insuportável.

_Sim, aceito suas desculpas. Com licença. – e entrei na casa. Acho que fui meio fria, mas era necessário. Não queria me envolver com ninguém, nem fazer amigos, nada! Eu apenas aguardava os dias se passarem para poder voltar a minha verdadeira pátria, voltar para minha vida.
 

 

2 comentários:

Mariana disse...

Bem!!! :) Que rapaz bonito!:)

David Veiga disse...

Eu adorei essa outra actualização. o/ Será que ela irá apaixonar-se por ele? E olhe lá, ele é um gatão. *O*